quarta-feira, 1 de setembro de 2010

OS GRANDES VINHOS SE APRESENTAM QUANDO VOCÊ MENOS ESPERA...


Terça-feira, 31 de agosto de 2010, estava eu na labuta no restaurante O Dádiva. Início de semana que antecede feriadão (e isto é sinônimo de BH vazia), final de mês... todos os elementos conspiravam para uma noite sem muito trabalho, de casa vazia e sem nada para acrescentar para o nosso dia-a-dia...

Eis que surgem 4 senhores de terno e gravata, que pelo jeito havia acabado de chegar de viagem e se acomodam para jantar. E que jantar! Um jantar de 5 atos, que nem o sommelier mais otimista imaginaria se deparar numa noite tão pacata como esta!

Primeiro Ato: um deles pede a carta de vinhos e pergunta para os outros o que gostariam de beber, e foram unânimes em começar por uma champagne. A bola da vez foi a Ruinart Blanc de Blancs Brut. E a champagne se apresentou extremamente elegante, com a perlagem constante como deve ser e com belo frescor e ótima persistência. No início, aquele famoso aroma de fermento de pão tomava conta da taça, depois foi dando espaço para haromas florais e de frutas brancas maduras. Uma ótima forma de começar a noite com chave de ouro!

Segundo Ato: quando estavam na metade da garrafa de champagne um dos senhores pediu sua bolsa. E com a mesma facilidade que um mágico tira um coelho de dentro de uma cartola, ele saca de sua bolsa um simples e singelo La Grande Cave Corton Grand Cru Rognet 1992 e pede para que eu resfriasse o mesmo para fazer o serviço. E voilá... o vinho demostrava traços de evolução, mas muito saudável para idade. Já de cara demostrava aromas de framboesa fresca, açúcar mascavo, canela e um leve toque de pimenta branca, evoluindo para um leve mentolado e ervas em geral. Simplesmente fantástico! Na boca simplesmente um veludo, com um agradável retrogosto com notas defumadas e especiarias doces. O senhor que tirou o coelho da cartola, ou melhor, o vinho de dentro da bolsa, disse que tinha mais 5 dessas garrafas, mas a que ele havia degustado na França estava melhor (como já havia dito, não só o conteúdo da taça, mas tudo que está em sua volta, o universo ao seu redor conta muito para um vinho se tornar um Rex Vinorum). E olha que nesta altura do campeonato ainda estavam no couvert.

Terceiro Ato: pedem o cardápio e carta de vinhos novamente. Os pratos foram bem variados: de Bacalhau Confit à Tornedor ao molho de trufas com Risotto de 5 Cogumelos. Não havia como ter um vinho para harmonizar com toda esta variedade gastronômica. Entre uma sugestão e outra dadas por este que vos escreve, decidiram pelo tinto português da região do Douro Crooked Vines 2005. Trata-se de um Douro de pedigree. Rubi intenso, muito brilhante, sem nenhum indício de evolução. Os aromas passam de aceto balsâmico, frutas negras em compota, toque de especiarias doces, madeira tostada evoluindo para um tabaco e caixa de charuto. Na boca os taninos são firmes, porém em equilibrados com o retrogosto num misto de pimenta e canela. Muito diferente e muito envolvente. Ponto para quem optou pelo Tornedor Trufado!

Quarto e Quinto Ato: estes dois últimos atos se misturam , mas sem perder a importância de ambos: pediram uma meia garrafa do Sauternes Cuvée du Bontemps 1999 e uma meia garrafa do Vinho do Porto Portal Vintage 2003. O Sauternes estava um verdadeiro mel, extremamente agradável. Só a cor que mostra uma certa idade avançada, mas na taça estava perfeito. O Vintage se demostrou rebelde e ao mesmo tempo tímido, muito longe do seu ápice, mas já demostra ser um grande vinho.

É por uma destas que eu digo que os grandes vinhos se apresentam quando você menos espera!

Saúde!

Um comentário:

  1. Gustavo, parabéns realmente deve ter sido uma noite e tanto. Você mere ce provar esses nectares.

    Abraço

    Eduardo

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