segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Joško Gravner. - por Igor Maia.


Ribolla Gialla Botrytisado.

"De minha primeira visita a Itália em Abril de 2011, guardarei momentos únicos, indeléveis. Entre quatro visitas a produtores icônicos na Velha Bota, uma foi definitivamente especial e marcante, visitar na pequena vila de Oslavia - Collio ítalo-esloveno - o maior nome da região do Friuli, Francesco Joško Gravner.
Um dia antes, estávamos na casa de um amigo de infância de Joško e tomávamos um de seus vinhos incomparáveis, carregado de verdadeira devoção à terra, era um Ribolla Gialla 2005. Quando entre várias conversas sobre aquele vinho, nosso anfitrião com um súbito telefonema confirmava diretamente com Joško uma visita à sua azienda.
No tão aguardado dia, fazia frio mas o tempo estava lindo, com sol e poucas nuvens no firmamento. Quando chegamos à casa de Gravner, o próprio já nos aguardava com seu cachorro de estimação, Bruno, e rapidamente já estávamos defronte alguns de seus vinhedos. Enquanto pacientemente ele nos explicava que estava a reformar sua casa, adaptando-a mais uma vez para as novas ânforas que iriam chegar, eu tentava controlar a gradual euforia que começava a tomar conta de mim.
Antes de falar um pouco sobre os vinhos, creio que seja pertinente evidenciar o quão dinâmico e grandioso é este produtor. Até finais da década de 80, Gravner fora conhecido por seus brancos majestosos ao estilo Borgonha, elegantes, profundos e muito longevos. Foi um dos primeiros produtores na Itália a fermentar em cubas de inox e também em barricas novas de carvalho francês. Insatisfeito após o retorno de uma viagem aos EUA em 1987, Joško começou a pesquisar uma forma mais autêntica de elaboração com menor interferência possível; uma busca que o levou em Maio de 2000 ao Cáucaso – Georgia, onde vinhos tem sido elaborados em ânforas de terracota há mais de 5.000 anos.
No segundo pavimento da casa de Gravner, eu tinha diante dos olhos cerca de umas 30 ânforas enterradas e ainda com vinhos em fermentação. Nesse momento Joško nos explicou “após a colheita das uvas maduras e seu desengace, elas irão fermentar e macerar aqui por 5-7 meses, quando trasfegarei o vinho para os botti de carvalho.” Começamos a degustar os vinhos da safra 2009 e cada amostra retirada das ânforas mostrava-se surpreendente e reflexiva enquanto ouvíamos atentos as observações de Joško. Quando ele colocou o Ribolla 2009 na taça e com tamanha felicidade nos explicou os resultados daquela diminuta mas extraordinária colheita, eu chorei, não contive mais a emoção! Muitos pensamentos passaram por minha mente naquele instante entre cada gole dado no melhor e mais desafiador branco produzido no Friuli. Mostrava uma coloração dourada-alaranjada intensa, com aromas de pêssego, melão, casca de cítricos cristalizados, cêra e frutas secas. Na boca, untuoso e mineral num só tempo, os taninos eram firmes mas finíssimos e a persistência, incrível. Se o for tomar sirva a 14-15°C.
Degustamos ainda naquela ocasião um tinto, Pignolo 2003, com aromas de flores secas, tabaco, húmus e frutas vermelhas passificadas. Uma boca poderosa, tânica, sápida, mas de extrema finura e proporção. Um tinto expansivo e melhor de tudo, autóctone! Para rivalizar com os maiores do Piemonte certamente.
E como última etapa, degustamos um Ribolla Gialla botrytisado que encantou por sua coloração dourada-alaranjada, viscosa, num perfil olfativo de frutas de caroço maduras (pêssego, maçã), própolis e especiarias. Um branco gordo, oleoso em boca, mas equilibrado pela acidez de excelente calibre e tensa mineralidade. Não havia melhor forma de nos despedir de Joško, um camponês sisudo no olhar, voz grave, que faz refletir... os verdadeiros vinhos são obtidos antes de tudo do respeito e amor à terra!"


Francesco Joško Gravner e Igor Maia.

Igor Maia começou a trabalhar com vinhos em 2005 tendo iniciado como atendente de adega em dois supermercados de Belo Horizonte. A oportunidade de trabalhar em restaurantes apareceu na sequência até conseguir a titulação de sommelier em Janeiro de 2009, na ABS-RJ. Em Outubro de 2010 concluiu o nível 3 da WSET (tive o prazer de fazer este nível ao seu lado) e há 3 anos trabalha na parte técnica da importadora de vinhos Decanter em Blumenau, onde mora atualmente.
Além deste curriculo fantástico, Igor Maia é um grande amigo que cultivei nesta área. Já tivemos a oportunidade de dividirmos várias degustações juntos, e é sempre um prazer trocar informações com esta figura!!!

2 comentários:

  1. Grande amigo boa tarde,
    Muito obrigado pela oportunidade e parabéns pelo Blog.
    Um forte abraço,
    Igor

    ResponderExcluir
  2. Realmente um vinho maravilhoso,que com certeza figura entre os melhores brancos do mundo! Tive a oportunidade de degustar um 04 que estava fantástico e diferente de tudo que já tinha degustado,na ocasião estávamos num degustação e o Ribola deu trabalho pra todo mundo devido à suas particularidades e personalidade! Sem duvida uma experiência única! Parabéns Igor e Gustavo,abraço!

    ResponderExcluir